
o Interactivos? é um projeto desenvolvido já há alguns anos pelo Medialab-Prado como um laboratório temporário e itinerante para desenvolvimento de projetos criativos de base tecnológica. já tendo sido realizado em cidades como Madrid, Cidade do Mexico e Nova York, em abril ele veio pela primeira vez à América do Sul, com a coordenação de Marcos García e Laura Fernández, do Medialab-Prado; a produção de Mónica Cachafeiro, também do Medialab; e tendo como professores Diego Diaz e Clara Boj [Espanha]; Julian Oliver [Nova Zelândia]; e Kiko Mayorga [Peru].
A estranha paisagem desértica do litoral peruano.
no início do ano foram abertas inscrições para todo o mundo de projetos para serem realizados nas duas semanas de laboratório. foram selecionados oito propostas e, em seguida, abriram-se as inscrições para colaboradores interessados em trabalhar em algum ou alguns dos projetos selecionados. me inscrevi como colaborador do projeto Frame Seductions, do artista Pierre Proske [Australia] e, embarcando para Lima, me integrei à equipe de colaboradores formada também por Federico Andrade [Argentina - coletivo Modular], e Billie Pate [EUA].
em Frame Seductions, desenvolvemos uma obra audiovisual interativa em que porções de um vídeo panorâmico eram exibidas de acordo com a posição relativa do interator diante da tela. assim, a movimentação dos visitantes no espaço modificava a porção da imagem que era visualizada, permitindo ver além do quadro da imagem - ao menos virtualmente, pois, ainda que houvesse imagem para além das bordas do monitor, ela tampouco era infinita, possuindo também seu enquadramento. curiosamente, embora Pierre não conhecesse a seguinte referência no momento de idealização do projeto, a relação do interator com a Frame Seductions é justamente aquela que busca, sem sucesso, o personagem de Les carabiniers, filme de Godard, em sua primeira ida ao cinema [ver post antigo marginalia 0.2 - apropriações cinematográficas].

meu interesse no trabalho de Pierre estava desde o início ligado tanto à identificação de certa similaridade da proposta conceitual do trabalho que desenvolvemos no projeto marginalia quanto a um interesse pessoal e do marginalia em trabalhos com novos meios que estejam intrinsecamente relacionados e reflitam sobre os "velhos meios". no caso de Frame Seductions, trabalhamos com o enquadramento, um dos elementos mais fundamentais das artes visuais e, em particular, da imagem técnica e do cinema. é justamente pelo ato de enquadrar que o realizador estabelece as duas dimensões de maior importância para a linguagem cinematográfica, o campo e o fora-de-campo; o visível e o invisível. e, no caso do cinema, o fora-de-campo possui ainda um papel desestabilizador da cena filmada, constituindo um dos elementos mais importantes da elipse na gramática fílmica e da criação do suspense - haja visto Janela indiscreta, de Alfred Hitchcock.
na concepção e execução de Frame Seductions, buscamos trabalhar conceitualmente tais questões através de um jogo de tensões entre o campo e o fora-de-campo que se operava no momento da interação. em nossas discussões, entendemos que a mobilidade do enquadre não significa a extinção destas tensões, mas sua potencialização. e foi neste sentido que trabalhamos as imagens de vídeo e as respostas do sistema à participação do interator.
minhas atribuições práticas no desenvolvimento do projeto foram relacionadas à produção e processamento do vídeo, estudando distintas técnicas para a criação de vídeos panorâmicos, bem como distintas compressões que melhor permitissem o rápido processamento pelo sistema. a programação foi desenvolvida por Pierre utilizando a biblioteca openFrameworks a partir de algoritmos de detecção e rastreamento de faces. ao longo do processo, pude trabalhar também na concepção e esquematização de certa modularidade da imagem de vídeo, segmentando-a em seções que fossem trocadas quando o observador não as estivesse vendo. dessa forma, a imagem do fora de campo tornou-se menos estável, criando algumas interessantes surpresas no decorrer da interação. [mais informações sobre o projeto na wiki do workshop].
Teste de técnica para vídeo panorâmico baseada na técnica de slit scan.
Teste de técnica para vídeo panorâmico realizado com três tomadas de uma mesma câmera.
no final do workshop, tive também a oportunidade de colaborar brevemente no projeto Masa, de Andrea Sosa [Argentina] e Rolando Sánchez [Peru], prestando consultoria em compressão, resolução e outros aspectos técnicos de vídeo.
como atividade paralela do workshop, participei também da Pecha Kucha Night de Lima, junto com os demais colaboradores. Pecha Kucha é uma modalidade de apresentação de projetos em que cada participante deve utilizar 20 slides que são programados para durarem exatamente 20 segundos, totalizando um tempo máximo de apresentação de 6min40. buscando trabalhar diretamente sobre as limitações impostas por este formato, entitulei minha apresentação "0.05 fps" e apresentei imagens de meu vídeo "Paik for Kids" enquanto falava um pouco sobre minhas motivações para trabalhar com audiovisual e novos meios. a resposta à apresentação foi muito boa, e ela acabou saindo no site Pecha Kucha Daily, da comunidade Pecha Kucha mundial.
participar do workshop em Lima, foi uma experiência de aprendizado, colaboração e investigação incrível. construiu-se, de fato, um ambiente perfeito para a experimentação coletiva e espero poder participar de outras edições do evento. foi excelente também conhecer os demais participantes - pessoas com interesses próximos aos nossos de outras partes do mundo, em especial na América Latina. quem esteve lá me ouviu falar algumas vezes de como nós latino-americanos [e em particular brasileiros!] conhecemos muito pouco do que ocorre à nossa volta e por isto perdemos excelentes oportunidades de trabalhar em conjunto com nossos vizinhos de continente. espero que os contatos estabelecidos na Argentina, Chile, Peru, Colômbia e México possam se desdobrar em parcerias e projetos conjuntos num futuro próximo.
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